Uma bola de luz
Estou deitada e doente com uma tosse cavernosa e febre, enquanto aguardo que os comprimidos façam efeito. O Gonçalo vem para o pé de mim, por mais que o mande para o quarto quer estar ao pé de mim. Do nada lembra-se de mexer no candeeiro de pé que tenho perto da cama. Torce-o e retorce-o (é daqueles que se direcionam) e eu ralho:” Gonçalo pára com isso” , mas ele continua e eu volto a ralhar.
Aproxima a mão para dentro do candeeiro. Dou-lhe um safanão na mão para ele não pôr na lâmpada (embora seja daquelas que não aquece) pois pode-se magoar. Mas ele insiste persiste e é obstinado no seu objetivo.
Do nada assim como começou, para. Larga o candeeiro e junta as mãos cuidadosamente como se estas carregassem algo precioso e tenta dar-me. Estendo uma mão e ele diz:” Não. As duaa.” , “As duas mãos?” pergunto eu? E ele “Sim”. Imito o gesto dele com as mãos e aproximo a minhas, perguntando” O que estás a dar à mamã, papa?” Ele “Não. Uma bola”.
E eu “Ah uma bola, para brincares com a mamã é? “. Ele “Não. Uma bola de luuu”.
Eu admirada a olhar para ele” Uma bola de luz?” e ele contente “simmm”.
“E o que faço à bola, como?” -pergunto. Ele abana a cabeça “Não e aponta para o meu corpo”
“É para pôr no meu colo?” “Não “.
Então onde será? De repente lembro-me que a Bá guardava beijinhos no coração.
“No Coração?”. O olhar dele ilumina-se e o sorriso dele é de satisfação. Observa-me com atenção enquanto guardo a sua bola de luz invisível no meu coração.
Abraça-me e senta-se a meu lado. Esqueceu o candeeiro e o telemóvel volta a ser foco das atenções dele.
Eu sinto-me um pouco mais reconfortada nessa altura, afinal não é qualquer pessoa que tem um filho que lhe oferece uma bola de luz para o coração.
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Imagem retirada da net com link de referncia.
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