Ser Mãe de uma criança especial
Com incapacidades invisíveis
Na realidade sou mãe de duas crianças especiais cada uma de sua forma. Aliás já falei disso aqui
Um dos meus maiores sonhos foi sempre ser mãe. Quando a minha filha nasceu tive um sonho realizado e ela preencheu-me como mãe de uma forma que eu nunca tinha sonhado. Foi uma menina que falou precocemente e às vezes com dois anos deixava-me completamente desarmada. Ainda hoje por vezes não se identifica muito com as crianças da sua idade, mas esta é uma etapa que começa a ser superada. A minha filha sempre me preencheu como mãe, mas não me chegava, queria que ela tivesse uma irmã ou um irmão.
Assim após alguns anos esse sonhou realizou-se nasceu o meu filho. Como já aqui contei até mais ou menos aos dois anos correu tudo bem, mas daí para frente foi uma luta e ainda é. O Gonçalo foi diagnosticado com T.E.A. (transtorno do Espectro do autismo) em grau moderado.
E aqui começou o inferno, pois como o menino não falava, os outros faziam-lhe o que queriam e quando ele se defendia desculpavam-se que não tinham feito nada. Cheguei a assistir a alguns episódios que oportunamente contarei E porque falo disto? Porque era o meu filho, o menino que mordia quando o agrediam, que passava pelo agressor, era o meu filho que passava por mal-educado.
Pois o meu filho fazia birras e ainda faz, gritava e ainda grita, mordia (já quase não morde, felizmente), porque é um menino com características especiais. Não é um menino com uma deficiência visível, não anda de cadeira de rodas, nem tem o rosto característico que as crianças com trissomia 21 têm, a não ser os transtornos de comportamento, nada tem aparentemente de diferente das outras crianças. Por isso quando explicava a algumas pessoas o que se passava, o comentário era:
-Ah, mas ele é tão bonito!”
Pois as crianças com estes problemas não têm incapacidades visíveis, como um pai de duas crianças autistas disse, nem sempre é fácil encontrar compreensão para com estas crianças que têm “incapacidades invisíveis”.
Às vezes vesti-lo é uma luta que me cansa. Às vezes não tenho paciência e desespero. Às vezes pergunto onde é que eu errei? Às vezes não percebo o que ele quer e fico frustrada por não o conseguir ajudar.
Depois tenho a irmã que é maravilhosa com ele, mas que à maneira dela também sofre.
E dizem-me: “- Tens sorte. Tens uma filha que no futuro pode cuidar dele!” -E eu penso que isso é só mais uma angústia, porque queria que ela tivesse uma irmã, um irmão, uma companhia na vida, no futuro e não um peso na vida dela. Será que me consigo fazer entender?
Um dia, quando o meu filho fazia uma birra, um homem perguntou ao meu filho: “o que lhe faltava?” ao que lhe respondi: “Saúde! Tem para lhe dar?” É que eu não tenho e queria!”. Remeteu-se ao silêncio.
O que aprendi com o meu filho, é que apesar da dor e da frustração, somos mais fortes e mais unidos do que eu pensava. Aprendi que família, são os amigos que ficam, para o bem e para o mal e nos apoiam do princípio ao fim. Aprendi que às vezes não faz mal chorar. Aprendi a acreditar. Acreditar que tudo é possível. Aprendi que às vezes mudar faz bem. Que refilar, bater o pé e teimar, por vezes é necessário. Que devemos sempre seguir o instinto materno mesmo que todo o mundo esteja contra nós, ele estará certo. Mas ainda mais importante, aprendi a dar valor às pequenas conquistas de cada dia, como ontem ao jantar ele ter-me dito que queria “…Umo” (sumo)
Aprendi que o meu filho é uma criança pura sem maldade e que se houvesse mais como ele, talvez este mundo fosse muito melhor. Sou uma mãe abençoada, mesmo que às vezes chore e me revolte e me sinta frustrada. Sinto-me tão privilegiada por o ter. Acho que ainda amo mais intensamente cada um dos meus filhos, a ele pela pureza, a ela pela capacidade de amar e entender alguém tão especial como o irmão. E ambos me preenchem como mãe.
E para terminar queria pedir um favor: antes de julgarem ou criticarem uma mãe pela birra que a criança (que ela traz consigo), faz no chão, ou pelos gritos que dá, achando que tudo se trata de má educação e crianças "mimadas", lembrem-se que há meninos e meninas com incapacidades invisíveis.
Desculpem o testamento e tenham um dia da mãe muito feliz!!!