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Crónicas de uma mãe atrapalhada 2: O Meu Menino Talismã

Um dia escrevi sobre as aventuras e desventuras das delícias da maternidade e do milagre da vida! Este é a continuação dessas aventuras com um menino especial com autismo e um raro síndrome de deleção 18P

Crónicas de uma mãe atrapalhada 2: O Meu Menino Talismã

Um dia escrevi sobre as aventuras e desventuras das delícias da maternidade e do milagre da vida! Este é a continuação dessas aventuras com um menino especial com autismo e um raro síndrome de deleção 18P

Ser Mãe de uma criança especial

Com incapacidades invisíveis

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 Na realidade sou mãe de duas crianças especiais cada uma de sua forma. Aliás já falei disso aqui

          Um dos meus maiores sonhos foi sempre ser mãe. Quando a minha filha nasceu tive um sonho realizado e ela preencheu-me como mãe de uma forma que eu nunca tinha sonhado. Foi uma menina que falou precocemente e às  vezes com dois anos deixava-me completamente desarmada. Ainda hoje por vezes não se identifica muito com as crianças da sua idade, mas esta é uma etapa que começa a ser superada. A minha filha sempre me preencheu como mãe, mas não me chegava, queria que ela tivesse uma irmã ou um irmão.

    Assim após alguns anos esse sonhou realizou-se nasceu o meu filho. Como já aqui contei até mais ou menos aos dois anos correu tudo bem, mas daí para frente foi uma luta e ainda é. O Gonçalo foi diagnosticado com T.E.A. (transtorno do Espectro do autismo) em grau moderado.

       E aqui começou o inferno, pois como o menino não falava, os outros faziam-lhe o que queriam e quando ele se defendia desculpavam-se que não tinham feito nada. Cheguei a assistir a alguns episódios que oportunamente contarei E porque falo disto? Porque era o meu filho, o menino que mordia quando o agrediam, que passava pelo agressor, era o meu filho que passava por mal-educado.

           Pois o meu filho fazia birras e ainda faz, gritava e ainda grita, mordia (já quase não morde, felizmente), porque é um menino com características especiais. Não é um menino com uma deficiência visível, não anda de cadeira de rodas, nem tem o rosto característico que as crianças com trissomia 21 têm, a não ser os transtornos de comportamento, nada tem aparentemente de diferente das outras crianças. Por isso quando explicava a algumas pessoas o que se passava, o comentário era:

 -Ah, mas ele é tão bonito!”  

        Pois as crianças com estes problemas não têm incapacidades visíveis, como um pai de duas crianças autistas disse, nem sempre é fácil encontrar compreensão para com estas crianças que têm “incapacidades invisíveis”.

         Às vezes vesti-lo é uma luta que me cansa. Às vezes não tenho paciência e desespero. Às vezes pergunto onde é que eu errei?  Às vezes não percebo o que ele quer e fico frustrada por não o conseguir ajudar.

           Depois tenho a irmã que é maravilhosa com ele, mas que à maneira dela também sofre.

 E dizem-me: “- Tens sorte. Tens uma filha que no futuro pode cuidar dele!” -E eu penso que isso é só mais uma angústia, porque queria que ela tivesse uma irmã, um irmão, uma companhia na vida, no futuro e não um peso na vida dela. Será que me consigo fazer entender?

   Um dia, quando o meu filho fazia uma birra, um homem perguntou ao meu filho: “o que lhe faltava?” ao que lhe respondi: “Saúde! Tem para lhe dar?” É que eu não tenho e queria!”. Remeteu-se ao silêncio.

 O que aprendi com o meu filho, é que apesar da dor e da frustração, somos mais fortes e mais unidos do que eu pensava. Aprendi que família, são os amigos que ficam, para o bem e para o mal e nos apoiam do princípio ao fim. Aprendi que às vezes não faz mal chorar. Aprendi a acreditar. Acreditar que tudo é possível. Aprendi que às vezes mudar faz bem. Que refilar, bater o pé e teimar, por vezes é necessário. Que devemos sempre seguir o instinto materno mesmo que todo o mundo esteja contra nós, ele estará certo.  Mas ainda mais importante, aprendi a dar valor às pequenas conquistas de cada dia, como ontem ao jantar ele ter-me dito que queria “…Umo” (sumo)

 Aprendi que o meu filho é uma criança pura sem maldade e que se houvesse mais como ele, talvez este mundo fosse muito melhor. Sou uma mãe abençoada, mesmo que às vezes chore e me revolte e me sinta frustrada. Sinto-me tão privilegiada por o ter.  Acho que ainda amo mais intensamente cada um dos meus filhos, a ele pela pureza, a ela pela capacidade de amar e entender alguém tão especial como o irmão. E ambos me preenchem como mãe.

          E para terminar queria pedir um favor: antes de julgarem ou criticarem uma mãe pela birra que a criança (que ela traz consigo), faz no chão, ou pelos gritos que dá, achando que tudo se trata de má educação e crianças "mimadas", lembrem-se que há meninos e meninas com incapacidades invisíveis.

 Desculpem o testamento e tenham um dia da mãe muito feliz!!!

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