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Crónicas de uma mãe atrapalhada 2: O Meu Menino Talismã

Um dia escrevi sobre as aventuras e desventuras das delícias da maternidade e do milagre da vida! Este é a continuação dessas aventuras com um menino especial com autismo e um raro síndrome de deleção 18P

Crónicas de uma mãe atrapalhada 2: O Meu Menino Talismã

Um dia escrevi sobre as aventuras e desventuras das delícias da maternidade e do milagre da vida! Este é a continuação dessas aventuras com um menino especial com autismo e um raro síndrome de deleção 18P

Não, eu não romantizo o autismo!!!!!

Há dias que tenho os braços cheios de nódoas negras, já estive com marcas de dentadas que deixaram feridas. Já passei pela fase em que perguntava ao meu filho, onde está a mamã e ele simplesmente ignorava. Já passei pela fase em que ele não dizia uma única palavra. Já fui olhada de lado pelas mães perfeitas (perfeitas ignorantes isso sim) que me diziam que eu não dava educação ao meu filho, quando eram os delas que batiam no meu e aproveitando-se de ele não falar iam fazer queixinhas que o meu lhes tinha batido.

Já passei pela fase em que suspeitei que alguma coisa com o meu filho não estava bem e ninguém acreditou. Já passei pela fase em que pensei que o meu filho me ia deixar de abraçar, de olhar, de beijar. Já passei pela fase em que pensei ele nunca mais ia dizer o som que o meu coração mais ansiava: Mamã! E já nem pedia um: Gosto de ti, mamã. Passei pela fase de não ter forças (e às vezes ainda passo) de o arrancar do chão, com as pessoas que não têm mais nada para fazer na vida, a julgar-me e a criticar-me.

 Já passei pela fase do choro, do desespero, do eu não sou capaz. Já passei pelo desespero de pensar que eu nunca ia conseguir que ele largasse a fralda. As noites em claro e em silêncio a chorar, e m busca de onde tinha errado.  Não tinha vontade de sair à rua nem paciência para falar com ninguém. E depois descobri que focar-me no: eu não sou capaz, no desespero e na derrota não me iriam levar a lado nenhum.

 Passei a focar-me na solução e não no problema.  A frase que ecoava na minha cabeça era: “O verdadeiro amor supera todas as barreiras e vence tudo”.

Cada vez que o meu filho me mordia, me arranhava, me pontapeava, eu agarrava-o e de início ele resistia. Mas eu não desistia. Eu abraçava-o, eu dava-lhe beijinhos, hoje ele adora abraçar e dar beijinhos.  

Mas às vezes os meus braços ainda ficam negros e eu ensino que não, não se faz, porque doi e ele diz “desculpa” e dá beijinhos.

Escolhi não olhar só a parte negativa e celebrar cada pequena vitória como a maior conquista do mundo. Escolhi o enfrentar o não e fecharem-me as portas quando procurei um ATL para o meu filho, e alguns diziam que não tinham vaga ou ligavam à tarde ou no dia seguinte e nunca ligaram, mas escolhi não desistir e continuar a bater às portas. E quando fiz isso encontrei pessoas fantásticas que me disseram sim, sem reservas sem preconceitos. E fizeram um trabalho fantástico com ele.

Escolhi mudar, aceitar e olhar o futuro com os pés no chão, mas com fé na luta pela sua evolução. Escolhi trilhar o caminho da esperança, por ínfima que fosse e nesse caminho tenho encontrado pessoas fantásticas, que quiseram ajudar-me a olhar o futuro com esperança.

Escolhi expor-me e enfrentar o preconceito. Sim, o meu filho é uma criança com autismo e eu tenho muito orgulho nele, porque sei o quanto ele luta todos os dias para chegar onde os outros chegam sem luta.

E aos poucos a minha luta foi recompensada, o meu filho diz mamã na perfeição e esse é  o melhor e mais maravilhoso som do mundo para mim: a voz do meu filho a dizer Mamã!!!!!

Não eu não romantizo, o autismo. O autismo é luta, isolamento, sofrimento. É sentirmo-nos como o D. Quixote de La Mancha a lutar contra os moinhos de vento. Enfrentar o autismo é duro e o autismo de regressão é um murro no estômago, há dias muito difíceis e coisas que só quem passa pelo mesmo entende.

 Não eu não romantizo o autismo, só escolhi olhar para ele de outro ângulo, trilhar o caminho da esperança e focar-me nas conquistas.

 

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