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Crónicas de uma mãe atrapalhada 2: O Meu Menino Talismã

Um dia escrevi sobre as aventuras e desventuras das delícias da maternidade e do milagre da vida! Este é a continuação dessas aventuras com um menino especial com autismo e um raro síndrome de deleção 18P

Crónicas de uma mãe atrapalhada 2: O Meu Menino Talismã

Um dia escrevi sobre as aventuras e desventuras das delícias da maternidade e do milagre da vida! Este é a continuação dessas aventuras com um menino especial com autismo e um raro síndrome de deleção 18P

Até sempre Avó Nita

Viverás para sempre nos nossos corações

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Eu nunca tive sogro. Para compensar, como dizia na brincadeira tive duas sogras. Como tudo na minha vida tinha de ser diferente. Quando conheci aquele que é o meu melhor amigo e o excelente pai dos meus filhos, infelizmente o seu pai já tinha falecido. A minha sogra não era mulher fácil, mas era boa pessoa de coração. Nem sempre tínhamos a melhor relação do mundo mas isso não implica que eu não gostasse dela. Iria mentir se dissesse que era tudo um mar de rosas, porque não era, mas também tive muitos momentos bons com ela.

 

Dona Amélia, não tinha só nome de rainha, como era altiva como uma. Era uma mulher baixinha e franzina, com pés muito pequeninos calçava o trinta e quatro. Mas era gigante na sua força de vontade e coragem. E eu tinha uma grande admiração por ela. Talvez por isso como diz o meu marido chocássemos muito porque éramos ambas muito senhoras do nosso nariz.

 

Após o falecimento do seu marido, o sogro que nunca conheci, mas que ouço e ouvi muitos histórias dele que me fizeram sorrir e achar que também era um ser humano de bom coração, como ia a dizer, após o seu falecimento, a irmã da minha sogra, a irmã dela solteira, que ajudara na criação do meu marido foi viver com ela.

 

A nossa “Ti” Nita (diminutivo de Mariana) e depois do nascimento da Bá, a “Vó” Nita como os meus filhos carinhosamente sempre a trataram foi a minha segunda sogra. A “Vó” Nita era também uma mulher baixinha e franzina com as costas já curvadas pelo peso da vida. Dizia que tinha bom feitio, mas quando teimava com uma coisa ninguém a demovia nem para o bem nem para o mal. Tinha os olhos verdes mais bonitos que conheci na vida e era uma das almas mais bondosas e puras que conheci na vida.

 

Infelizmente isso funcionava para o bem e para o mal , pois nunca via maldade em ninguém e para ela todas as pessoas eram boas. Tinha muito talento para fazer versos, a Bárbara ganhou muitos, infelizmente o Gonçalo já não. Pois já estava numa outra fase da vida. Eram ambas pessoas de outra geração que as fazia ter uma força e uma fé que confesso não sei se alguma vez terei. As primeiras reações aos problemas do Gonçalo não foram das melhores, nem das mais bonitas, mas depois de viver connosco aos poucos apercebeu-se de quem o Gonçalo era realmente e dizia-me que ele era muito inteligente e meiguinho.

 

Tinha uma grande adoração pela sua Bárbara e tratou-me por sobrinha desde o primeiro dia que a conheci. Na época tinha o cabelo pintado de ruivo que contrastava lindamente com os seus bonitos olhos verdes. Confesso que tenho pena que nenhum dos meus filhos tinha saído com os olhos verdes como ela. Quando veio viver connosco era para ser temporário enquanto aguardava a entrada num lar, pois para nós era complicado e ela própria não se importava pois teria mais gente, mas surgiu a Pandemia e ficámos de mãos atadas.

 

Fizemos o nosso melhor, nem sempre era fácil e os últimos dias foram muitos difíceis o Gonçalo tinha torcido o pé e andávamos muito sobrecarregados, talvez por isso não nos tivéssemos apercebido a tempo que ela estava mais doente do que nos dizia. Já estava numa fase que confundia a realidade com os sonhos e por vezes era difícil fazê-la acreditar, que algumas coisas não eram reais, por vezes gritava e se lhe perguntássemos porquê, dizia que não era nada. Não era simples , não era fácil, mas tirando isso era meiga e divertida. Às vezes ia-lhe fazer companhia, e punha-me a imitar as bailarinas do programa da tarde e ela desatava-se a rir. Às vezes pegávamos-nos as duas , porque por vezes eu andava zangada com Deus, principalmente depois do meu marido sofrer a trombose e ela tinha uma fé inabalável.

E quando a perdi, perdi a minha segunda sogra e por incrível que pareça, e que quem me lê e conhece me possa não acreditar, sinto-lhes a falta e principalmente a minha filha que perdeu as avós com quem cresceu e ficou uma sensação de vazio por preencher.

Quem me dera voltar a tê-las entre nós mesmo que nem tudo fosse rosas.

 

Até sempre “Vó” Nita ficam as memórias, o cheiro da Canja, o sabor do Pão de Ló, os teus versos e tantas outras coisas bonitas que partilhámos. Perdoa-me se nem sempre tive a paciência que devia, às vezes a vida pedia mais do que eu podia dar. Estarás sempre entre nós. Viverás para sempre no nossos corações.

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