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Crónicas de uma mãe atrapalhada 2: O Meu Menino Talismã

Um dia escrevi sobre as aventuras e desventuras das delícias da maternidade e do milagre da vida! Este é a continuação dessas aventuras com um menino especial com autismo e um raro síndrome de deleção 18P

Crónicas de uma mãe atrapalhada 2: O Meu Menino Talismã

Um dia escrevi sobre as aventuras e desventuras das delícias da maternidade e do milagre da vida! Este é a continuação dessas aventuras com um menino especial com autismo e um raro síndrome de deleção 18P

Vou começar a pôr o blog em dia :)

Sei que alguns por opção, ou por falta de tempo não tem redes scoiais. Vou tentar pôr o blog em dia. A partir da semana que vem, vou tentar coordenar tudo. Se o meu computador velhinho se aguentar. Senão vou ter que aprender de outra forma. Até lá tenho de pôr a minha leitura bloquística em dia.

Cresceste-me!!!!

Para a minha Filha

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Cresceste-me!!!!! Sim cresceste-me!

 Não, não é erro, é mais uma daquelas palavras que sabes que gosto de inventar. Cresceste-me e eu não tive tempo de te acompanhar.   Sinto a tua falta agora que não estás comigo.

 Desde há alguns anos para cá só publico o que te autorizas, mas hoje, hoje filha perdoa-me estas palavras tinham de sair juntas com a nossa fotografia. Aquela que tirámos num dos poucos momentos de divertimento e alegria que tivemos nos últimos meses.

   E sim eu sei dentro de poucas horas já te tenho comigo, mas fazes-me falta. Só a tua presença enche uma casa. És a cola que nos une a todos, porque todos incluindo o Gonçalinho te amamos incondicionalmente.

Sempre foste uma desenrascada e faladora.  Sempre pareceste mais crescida do que de facto eras e se pensam que isto é fácil ou estar a gabar-me, estão enganados.

Não é nada fácil porque uns não nos acreditam e outros acham que nos estamos a querer evidenciar, mas contra factos não há argumentos.

 Só quem passa por elas percebe, como aos dois anos já argumentavas comigo e me deixavas a pensar.

 Fazes-me falta até quando não fazes o que te peço e me irrito, porque tudo o que digo e faço é sempre a pensar em ti.

 Já eras crescida demais para a idade e quem me conhece sabe que me culpei tanto porque pedia um bebé que não falasse aos seis meses, porque foi tão difícil lidar com isso e senti-me tão sozinha com o despeito das mães que achavam que o que era desabafo era competição.

Se elas tivessem a mínima ideia de como é difícil dar respostas e educar quem fala tão cedo, percebiam que coma alegria, as gracinhas e as piadas vinham dificuldades acrescidas de me lembrar que eras mais bebé do que parecias. E eu pedi um bebé que não falasse aos seis meses e levei a nos a libertar-me dessa culpa por o teu irmão não falar.

E depois tinhas só sete anos quando o teu irmão nasceu, noutras circunstâncias diria já, mas nas do teu irmão eram só seta anos e desde os teus oito que me ouvias chorar pela impotência de ajudar o teu irmão, quando andava de médico em médico e ninguém me ajudava.

 Tinhas ciúmes das tuas colegas se aproximarem do teu irmão, resmungavas, com um ar altivo

“O irmão é meu, não é teu” e foste apanhada no meio do furacão dos diagnósticos do teu irmão, primeiro o da surdez, depois o do autismo e por fim o síndrome genético 18p- e viste-me tentar manter-me a tona de água enquanto o furacão nos atirou e ainda nos atira de um lado para o outro sem cessar. E a minha ansiedade subiu e a tua também. És humana, nenhuma criança merece crescer no meio dos furacões que tu cresceste, o de sermos cuidadores das tuas avós, desde os teus 3 anos de idade, o da precariedade laboral da tua mãe e do teu pai, o dos diagnósticos.

Porra miúda és grande é gigante. Eu vi-te a lutar para cumprires com os teus trabalhos, eu ouvi-te impotente a implorares-me que as dores te passassem. Pediste-me que eu não desistisse de ti. E eu não desisti, tivemos uma discussão feia, talvez a nossa primeira discussão de mãe e filha e foi quando eu acordei e percebi: Cresceste-me e eu não percebi.

Ma não desisti e entregaste quase tudo, mesmo com um atestado médico que te isentava de o fazeres. Parabéns filha mais uma etapa cumprida com boas notas.

Para quem está no meio do furação como eu diria excelentes. E pela primeira vez desde que entraste na escola eu insurgi-me contra o que eu achava que era uma injustiça para ti e filha e defendi-te como uma leoa, mas como uma Gansa a defender as suas crias

Continua a crescer. Eu estou aqui, não desisto de ti e estarei aqui sempre para te dizer faz os TPC, só eu e tu sabemos o que isto quer dizer, mas filha perdoa-me:

Tu cresceste e eu não te soube acompanhar.

 Mas estou com saudades e só te quero abraçar.

 

( publicado em simultâneo no blog que partilho com a minha filha)