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Será que a música pode ajudar crianças, adolescentes e adultos com autismo no seu desenvolvimento? A relação da musicalidade com a prática terapêutica junto a pessoas com autismo tem sido alvo de inúmeras pesquisas que iremos ver de seguida com maior pormenor.
Como é que o corpo das pessoas com autismo funciona quando há música?
As pessoas com autismo podem apresentar um processamento sensorial diferenciado. Sabemos que elas tendem também a processar melhor as informações espaciais e concretas e focar a atenção em partes separadas, podendo ter dificuldade em formar uma ideia geral do todo.
Mas como os processos cerebrais afectam a relação das pessoas com autismo com a música?
Um aspecto muito interessante e que está ligado ao funcionamento cerebral específico das pessoas com autismo é que estas pessoas mostram respostas neurofisiológicas reduzidas para estímulos a partir de palavras nas regiões frontais do cérebro. Ou seja, quando comparadas com as pessoas neurotípicas, as pessoas com autismo tendem a apresentar uma diminuição significativa da ativação para palavras em regiões centrais do córtex parietal.
Além disso, nas pessoas com autismo podem ocorrer reduções nos níveis de actividade do córtex auditivo secundário, sendo que esta é a área do cérebro onde deveriam ser processados os sons da fala. Estes factores fazem com que possa existir entre as pessoas com autismo um maior interesse por sons relacionados à música do que por sons vindos da fala.
Segundo o Professor Gustavo Schulz Gattino, em relação à música, as pessoas com autismo tendem a apresentar uma capacidade intacta para a percepção de melodias simples e um desempenho superior a indivíduos com desenvolvimento típico para processar elementos locais melódicos. Apesar disso, observa-se uma dificuldade para decifrar algumas melodias complexas e isto está ligado à dificuldade em formar “imagens musicais”, ou seja, compreender e ter uma visão global de séries de melodias que não apresentam o mesmo direccionamento.
As pessoas com autismo percebem sentimentos e emoções na música?
- De acordo com pesquisas cujos resultados foram obtidos a partir de análises fisiológicas de alterações na pele dos indivíduos enquanto eles ouviam música: as pessoas com autismo costumam ter uma percepção apropriada dos sentimentos e emoções evocados pelas músicas.
- Nestes estudos, as pessoas com autismo em geral conseguiram identificar alegria, tranquilidade ou tristeza, por exemplo, ao ouvirem música, de maneira parecida com as pessoas neurotípicas;
- O fato da compreensão dos sentimentos e a expressão emocional estarem aparentemente preservadas entre as pessoas com autismo quando elas são expostas às musicas indica oportunidades e possibilidades amplas de trabalhos terapêuticos que envolvam o desenvolvimento da comunicação, aprendizagem e interação social.
Como é que a música pode ajudar as pessoas com autismo?
A Musicoterapia voltada para as pessoas com autismo tem como objectivos o desenvolvimento de talentos e habilidades mediado pelas experiências musicais. A música poderá beneficiar o tratamento de crianças, adolescentes e adultos ao:
- Possibilitar a acção das pessoas com autismo dentro da estrutura temporal da música, através de participações livres, da exploração de instrumentos e de improvisações;
- Oferecer oportunidades de auto-expressão e de vivências criativas, como experiências de comunicação e interacção entre pares sem a necessidade do discurso verbal;
- Oferecer alternativas de expressão e comunicação de modo socialmente adequado;
- Apresentar oportunidades para que as pessoas com autismo possam assumir responsabilidades com os demais indivíduos, por exemplo, quando os mesmos estão produzindo música em conjunto;
- Fomentar o aumento da comunicação verbal e não-verbal entre os pares;
- Possibilitar a aprendizagem de regras sociais para poder replicá-las em outros ambientes e contextos.
Este artigo é uma parceria com a psicóloga
Sofia Castro Sousa
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